Uma empresa de Piracicaba, no interior de São Paulo, desenvolveu um método inovador no controle das pragas, e ainda mais barato, já que substitui o uso do agrotóxico nas plantações. É a criação de micro vespas, que medem apenas 26 milímetros e são produzidas em laboratório.
A técnica é a seguinte: a vespa deposita os ovos dentro dos ovos das pragas e impede o crescimento delas. Oito dias depois, nasce uma vespa ao invés de novas pragas. O maior uso das vespas está em plantações de cana-de-açúcar, mas ela também pode ser usada em 28 culturas diferentes.
A empresa produz 300 milhões de vespas por dia.
A substituição dos agrotóxicos fará com que cada brasileiro deixe de consumir por ano, seis litros de produtos químicos que são usados para livrar de pragas, segundo dados da Universidade de São Paulo, USP.
A população agradece!!!
Abaixo um artigo que saiu na iG, sobre a Bug Agentes Biológicos, que recebeu o título de "empresa mais inovadora do Brasil".
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Na última sexta-feira, os sócios da Bug Agentes Biológicos almoçaram em uma churrascaria de Piracicaba (SP) com quase 70 funcionários da empresa. Foi uma comemoração merecida. Em sete anos, a companhia passou da fase experimental para um negócio com faturamento milionário e vendas em todo o país. Nos últimos dias, essa ascensão surpreendeu até os fundadores. Eles se viram, no acanhado escritório perto da cidade de Charqueada (SP) onde trabalham, segurando inesperadamente o título de “empresa mais inovadora do Brasil”.
A escolha é da respeitada revista americana Fast Company, que passou a acompanhar a Bug após descobri-la num livro sobre inovação e empreendedorismo, escrito pela jornalista Sarah Lacy.
A empresa ficou na 33ª posição mundial, numa lista liderada pelo Facebook – e na frente de Petrobras, Embraer, OGX e outras potências nacionais. “Os editores acharam que a gente tinha relevância suficiente para ser premiado porque estamos em duas culturas muito importantes no País, a cana e a soja”, diz o empresário Diogo Carvalho.
A Bug vende basicamente insetos e ácaros. O principal produto é a trichogramma, uma vespa tão pequena que um grama do preparado vendido pela empresa contém 37 mil ovos fertilizados com pequenas vespinhas. Ela é cultivada nesses ovos e, quando nasce, solta na lavoura. Ali vai parasitar outros ovos, de mariposas e borboletas, que são as principais pragas – quando em fase de lagarta – das grandes culturas brasileiras. A trichogramma responde por metade do faturamento da Bug.
A empresa tem como clientela 350 mil hectares de lavoura no País. Atende grandes grupos do setor de açúcar e álcool, como Raízen, Zilor e São Martinho – as vespas já substituem totalmente o agrotóxico numa usina de 35 mil hectares, para dar um exemplo. Tem clientes que plantam cana no Maranhão, soja no Centro-Oeste, morango no Espírito Santo, flores e pimentão em Minas Gerais, melão no Rio Grande do Norte, algodão, milho, tomate e assim por diante.
Os insetos da Bug proporcionam, segundo a empresa, uma economia de 30% em relação aos agrotóxicos. Além disso, as vespas normalmente só precisam ser aplicadas uma vez, no início do plantio, enquanto agentes químicos são borrifados até seis vezes durante a safra.
Mas não haveria nisso um perigo biológico? Será que o Brasil não vai acabar cheio dessas vespinhas? Bem, os argumentos dos sócios são convincentes. O principal é de que a trichogramma – que sempre existiu por aí, na natureza – parasita apenas os ovos dessas pragas. Logo, ela só poderia se reproduzir descontroladamente se a praga também se tornasse abundante. Acontece que a própria trichogramma evita isso – e os testes para comprovar a tese são feitos há mais de 30 anos nas universidades.
Na verdade, o Brasil usa insetos para controlar pragas faz tempo. A mosquinha cotésia é empregada na luta contra a lagarta “broca de cana” (a mesma combatida pela vespa da Bug) desde os anos 1980, no maior programa de controle biológico do mundo. Nos anos 1990, o País importou moscas da Califórnia para ajudar nas plantações de laranja. Numa busca no Google, é fácil achar mais de 300 mil pesquisas sobre a própria trichogramma. Era uma velha conhecida do meio acadêmico. A grande inovação da Bug foi conseguir produzi-la em escala comercial.
Em um desses laboratórios onde a trichogramma era estudada, na escola de agronomia da USP, em Piracicaba, Heraldo Negri, sócio de Diogo na Bug, trabalhou 20 anos com a vespinha. Nessa época, Diogo fazia mestrado no mesmo campus. As pesquisas dos dois – e de vários outros acadêmicos – já mostravam bons resultados, mas não havia aplicação mercadológica do inseto.
Em 2001, eles fundaram a empresa, na incubadora da universidade. Até 2005, pesquisaram e desenvolveram produtos, numa época de muito trabalho e pouca estrutura. Chegaram a ter nove imóveis alugados em Piracicaba para tocar as pesquisas, sobrevivendo graças ao aporte – a fundo perdido – de R$ 1,2 milhão da FAPESP, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Então, em 2005, eles receberam um telefonema. Um usineiro da região de Assis (SP) queria aplicar o produto numa área de 500 hectares de cana. Era um pedido de 500 gramas de ovos, cinco vezes a capacidade da empresa na época. Os sócios toparam, o que significaria a primeira receita de verdade da Bug. Em 2010, ela se tornou a primeira empresa a registrar um inseto (a trichogramma), com liberações da ANVISA, do IBAMA e do Ministério da Agricultura. Em 2011, protocolaram ácaros e insetos predadores. Cada processo levou cerca de três anos.
Cada cartela que vendem – uma embalagem engenhosa e também patenteada – tem 24 tabletes. O tablete, cerca de 2,5 mil vespinhas. Uma cartela tem entre 50 mil e 100 mil trichogrammas, dependendo do propósito. Para aplicar, o agricultor caminha pela plantação e solta um tablete a cada 20 metros. A cartela cobre um hectare e custa R$ 12 para cana e R$ 20 para soja, tipo com maior concentração de ovos. A capacidade de produção é de oito quilos de ovos por dia – ou oitenta vezes a de 2005, no pedido inicial.
No final de 2011, a empresa se fundiu com a Promip, de Marcelo Poletti. Tratava-se de um negócio com história parecida, que vinha crescendo 35% ao ano desde a fundação (em 2006) e tinha produtos complementares – é focada em ácaros e predadores microscópicos. Juntas, elas podem oferecer um pacote de soluções com várias espécies, para diferentes lavouras. Também vendem armadilhas para pragas e ovos para cultivo de vespas – esses últimos, exportam para a União Europeia.
A sociedade da Bug é dividida igualmente entre Diogo e Heraldo (fundadores), Marcelo (que entrou com a Promip) e dois fundos que investiram no negócio: o Criatec (do BNDES, representado por Francisco Jardim) e a Trigger Participações, liderado por Marcelo Berger. Novos investidores estão para entrar na empresa, para ajudar na expansão.
Espaço para crescer após o aporte, não falta. O controle biológico de pragas embolsa menos de 1% de um mercado de R$ 8 bilhões no Brasil, dominado pelos agrotóxicos. A Bug atende 35 usinas de cana, de um universo de 435 no país. No setor de soja, a penetração da empresa é ainda menor. “A tecnologia está pronta, agora é só usar os recursos para replicá-la e expandir”, diz Diogo.
A empresa já conta com duas fábricas e quase 80 funcionários – e está contratando. O faturamento, eles não revelam. Mas é fácil entender que estão num caminho sólido: vendem cartelas com preços entre R$ 12 e R$ 20 que cobrem um hectare, e têm 350 mil hectares de clientela. “O plano de negócios é que em cinco anos a empresa passe a faturar US$ 40 milhões por ano”, diz Poletti, que além de sócio virou diretor de pesquisa e desenvolvimento da Bug. As pequenas vespinhas são um grande negócio.
Pedro Carvalho, iG São Paulo